Por Felipe Moreno
Imagine um dia qualquer na semana. O despertador do seu celular toca, você acorda e aproveita pra dar aquele “bom dia” nos grupos do Whatsapp. Enquanto toma café da manhã, entra no Facebook e dá uma olhadinha nas novidades. Vai pro trabalho e checa os e-mails. Isso sem contar quantos tweets você já não deve ter feito…
É um dia como qualquer outro, mas a cada acesso, a rede mundial de computadores obtém inúmeras pistas do horário que você acorda, que tipo de assunto você curte de manhã e se você procrastina demais no trabalho.
Pode parecer assustador – e é –, mas é por causa desses algoritmos, o big data, que o conteúdo na internet está cada vez mais personalizado e a navegação cada vez mais pessoal. E isso não serve só para o mundo digital. Crescendo exponencialmente, a técnica está mudando a maneira de enxergar os problemas à nossa volta, e de como resolvê-los.
DADOS SEMPRE EXISTIRAM
O nome pode ser novo, mas o conceito é mais antigo do que a gente pensa. Desde a era paleolítica e os desenhos rupestres é que a nossa civilização tem a necessidade de usar registros como forma de orientação e resolução de problemas. Bastou apenas a invenção da folha de papiro e a criação do ábaco para termos as ferramentas reais para aperfeiçoamento da técnica que começaríamos a tomar partido só 3 500 anos mais tarde. A própria biblioteca de Alexandria era um exemplo real de big data, onde viajantes faziam seus manuscritos e anotações marítimas das expedições e forneciam para a biblioteca afim de construir um banco de dados útil para o império romano.
Quando descobriram que o governo e a sua busca por informações são uma boa dupla, não tardou para fazerem disso uma ciência com a aparição da estatística em meados do século XVII. Com o censo público geral completando seu meio século de idade, surgiram também estudos envolvendo demografia, controle de natalidade, genética, economia, e a mais importante de todas: probabilidade, que praticamente definiu o big data moderno que conhecemos.
CONHECIMENTO É PODER
O big data (do inglês, “grandes dados”) basicamente é a técnica que analisa uma grande quantidade de informações e as transforma em resultados interessantes que alcançam algum tipo de solução sobre o objetivo da pesquisa. Isso vem se tornando extremamente importante no empreendedorismo, já que é a arma secreta que as empresas tanto esperavam para saber e entender as principais necessidades de seu público alvo.
Um bom exemplo é a Netflix que, através de algoritmos avançados, elaborou um belo sistema de predição que é capaz de recomendar ao usuário a categoria que mais combina com ele baseando-se nos filmes e séries similares que ele vê com frequência. A própria série House of Cards já era um sucesso antes mesmo de ser lançado. Através de pesquisas de audiência, a Netflix já havia cruzado dados que mostraram que uma série sobre política com Kevin Spacey e direção de David Fincher não tinha como dar errado – e não tinha mesmo.
BIG DATA NA CONSERVAÇÃO
Com análises quantitativas, hoje já se pode identificar fatores importantes que ajudam a determinar o futuro de uma espécie, endemias e outros aspectos da conservação.
Um exemplo de estudo baseado neste modelo é o que estamos abordando neste mês, publicado pelo pesquisador do LACOS 21 Ricardo Correia. Em seu artigo, Ricardo explorou a ideia de definir o interesse público em algumas espécies de aves no Brasil e no mundo, e então saber as características relevantes que tornam uma espécie popular ou não, e a partir disso, traçar conclusões sobre o assunto dentro da ciência da conservação.
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No ano passado, um estudo publicado pela revista Science mostrou como o rastreamento de espécies desde os anos 2000 vem se transformando ao longo dos anos, acompanhando o avanço da tecnologia com o imprescindível auxílio de técnicas modernas de big data. O objetivo maior é monitorar os indivíduos por satélites, revelando características sobre como se formam os círculos sociais das espécies, a concorrência e até mesmo os atos de predação entre elas. O artigo ainda aponta uma série de exemplos práticos, como por exemplo, de espécies marinhas sendo rastreadas e usadas para monitorar temperaturas oceânicas em lugares de difícil acesso.
Com o crescimento do big data, estudos estão sendo cada vez mais direcionados e já têm ajudado a aumentar os esforços de conservação, chegando a conclusões relevantes e levantando novos problemas a serem solucionados pelos tomadores de decisões, sejam eles governamentais ou não.